Como lidar com as birras?

Pensa nesta situação: você foi no supermercado com seu filho de 2 anos e de repente ele quer pegar um chocolate. Você, pensando em ensiná-lo que não podemos ter tudo na hora que desejamos e também sobre alimentação saudável, diz "não pode filho". Isto é mais que suficiente para transtornar o pequeno, que começa a berrar e gritar "eu quero, eu quero, eu quero." Quem nunca?? Se você tem filhos fatalmente já passou por alguma situação parecida.
É importante ressaltar que a criança tem um desenvolvimento cerebral e maturidade emocional bem diferente dos adultos. Porque esperamos que elas se comportem com autocontrole, quando seu cérebro ainda não oferece esta capacidade de se acalmar sozinha?
Vamos chamar esta crise de birra de "sequestro emocional", para entendermos o que acontece com seu cérebro e como podemos minimizar os impatos deste nível de estresse nos nossos filhos.
O sequestro emocional acontece porque quando a criança está diante de uma situação de estresse, ela entra no estado primitivo do cérebro. Desta forma, não adianta falarmos uma, duas ou dez vezes para ela se acalmar ou parar de chorar e gritar, isto apenas a fará entrar ainda mais em um nível acima de descontrole. Nós adultos também agimos de forma primitiva, principalmente quando o autocontrole emocional não é um comportamento muito trabalhado.
Mas o que é agir de forma primitiva? É quando o cérebro bloqueia todas as opções de pensar e agir logicamente, pois o hemisfério direito tomou totalmente o controle, ou melhor, levou a pessoa a agir de maneira totalmente emocional. O que fazemos quando nos deparamos com um urso no meio da rua? Alguns paralisam, outros correm. Este momento em que você encara o urso e seu corpo decide por você o que fazer, é o modo primitivo em ação.
Pois bem, o adulto, diante de uma discussão acalorada no trabalho, consegue se autocontrolar e saber o momento em que deve falar para não gerar problemas maiores. O que quero dizer é que os adultos tem a capacidade cerebral de manter o controle e se acalmarem sozinhos. A criança não.
Grande parte do aprendizado é compreender que a criança não consegue se acalmar sozinha. Ela não faz reflexões produtivas quando os pais a isolam para que se acalme sozinha. Os pais costumam achar que elas pensam "ahh entendi, estou aqui sozinha porque fiz algo errado e aprendi, nunca mais farei isto." Porém, ela não é capaz de elaborar um pensamento tão elaborado, na verdade ela pensa "meus pais não me amam, estou sozinha e não sou compreendido, eu faço tudo errado mesmo, não sou capaz de fazer com que gostem de mim."
Por isto é muito importante que os pais ajudem a criança a se acalmar através da conexão. Acolher, abraçar, olhar no olho, se colocar na altura da criança, usar palavras empáticas e validar o sentimento da criança como "está tudo bem, também já me senti triste e com raiva, vai passar, estou ao seu lado" ajudam-na a se sentir segura, e então conseguir se acalmar e acionar o hemisfério esquerdo do cérebro, responsável pela lógica.
Depois que a criança se acalma é o momento de ensinar, pois ela está aberta ao aprendizado, já que seu cérebro é capaz de pensar de forma linear e lógica.
Portanto, para lidar com a birra, primeiro acalme a criança, lhe ofereça afeto e conexão. Depois que ela estiver serena, converse sobre os aprendizados, foque no que ela pode fazer na próxima vez em que se sentir assim, pergunte "como você entende que pode fazer da próxima vez?", ao invés de dar sermão, prefira o diálogo de forma positiva, firme e gentil.
Por Mariana Lima
Referências:
NELSEN, J. Disciplina Positiva: o guia clássico para pais e professores que desejam ajudar as crianças a desenvolver autodisciplina, responsabilidade, cooperação e habilidades para resolver problemas. 3.ª ed. São Paulo: Manole editora, 2015.
SIEGEL, D.; BRYSON, T. O cérebro da criança: 12 estratégias revolucionárias para nutrir a mente em desenvolvimento do seu filho e ajudar sua família a prosperar. 1.ª ed. São Paulo: Editora NVersos, 2015.